"Que anúncio chamativo..."

Story by Yure16 on SoFurry

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A primeira parte de uma história que venho pensando em escrever há dias, mas só agora resolvi colocar meu plano em prática.

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Percival andava lentamente pela

floresta à noite. Os sons dos grilos ecoavam entre as árvores

enquanto o coelho andava à passos curtos e preguiçosos. Sua vida de

explorador de masmorras estava tornando-se cada vez mais difícil

desde que seu pai morreu em um acidente durante uma exploração

impetuosa. Percival estava determinado a continuar seguindo os passos

de seu amado pai, mas tinha de admitir que não era tarefa fácil

quando se está sozinho e quando não se tem experiência. Ele aproximou-se da cidade e andou por

entre as modestas construções de madeira e palha, até a praça

principal. Lamparinas penduradas iluminavam os arredores da praça,

onde o escambo acontecia. Pertences eram trocados entre as espécies

à luz das lamparinas, todos sorriam uns para os outros, julgando

fazerem bons negócios. Mas a atração que apelava a Percival eram

os classificados, uma placa erguida no meio da praça na qual a

comunidade fazia anúncios. Normalmente, ofertas de todos os tipos

eram feitas nos classificados, tal como propagandas de serviços. Não

há dinheiro em Fenária; todos os serviços e objetos são

negociados por pertences. Ou seja, Fenária tinha uma economia de

escambo. Percival aproximou-se da placa e olhou

os anúncios cuidadosamente, por alguma coisa que pudesse sustentar

ele e sua mãe. Ele então viu um anúncio da prefeitura que parecia

perfeito para ele: "Exploradores de todas as idades e espécies, precisamos de

vossa ajuda! Foi encontrada uma nova entrada para a Grande Masmorra e

arqueólogos estão juntando-se ao pé da montanha para iniciar a

ofensiva! Pagamos em comida e água tratada aqueles que ajudarem e

obtiverem bons resultados na exploração. Jornada de cinco horas por

dia. Venha testar suas habilidades, descobrir tesouros e ajudar com o

avanço da arqueologia!" "Que anúncio chamativo...", pensou Percival. De fato, não é

todo o dia que se vê um anúncio daquele tamanho, cheio de

exclamações, muito menos se vem de um grupo de intelectuais

filiados à prefeitura. Percival deu os ombros e leu o resto do

anúncio para saber o local e a hora em que deveria comparecer: na

zona leste da montanha, dentro de dois dias, durante a manhã. Percival assentiu e deixou a cidade, voltando para a floresta

para dar as notícias à sua mãe. O caminho até a casa de Percival

era estreito, tendo de ser feito por uma trilha entre as árvores. A

trilha terminava numa casa de madeira construída numa clareira,

perto de um lago. Ele entrou e andou até sua mãe, a qual estava

sentada numa cadeira de balanço. Ela era uma coelha já idosa, usava

óculos e precisava sustentar-se com uma bengala. Mesmo assim, ela

era feliz, tinha grande vigor e não reclamava de sua idade. Muito

religiosa, ela sempre tinha consigo um rosário de vinte contas de

pérola e quatro de ouro, sendo que cada conta de ouro se interpunha entre

cada grupo de cinco contas de pérola. Ela olhou Percival, que

acabara de chegar e aproximava-se. A casa era muito simples e tinha apenas um cômodo. A única luz

era a luz do luar que penetrava pela única janela que dava para o

lago afora. A velha olhava a janela com uma expressão séria até

dar-se conta de que Percival havia chegado. Sua expressão mudou e ela sorriu para seu filho.- Como foi a busca por emprego? - ela perguntou.- Bem, mama - respondeu Percival. - Acredito que encontrei um

bom trabalho que nos suprirá de comida.- Muito bem... Ainda pretende explorar o subsolo? Sabes o que isso

deu pro seu pai, amor.- Sei muito bem, mãe. Mas meu pai foi imprudente. Confie em mim.

Além do mais, nada remunera mais que a exploração subterrânea. A coelha ficou decepcionada ao ouvir aquelas palavras, mas

aceitou; nada podia tirar Percival de sua paixão. Ele amava

participar de explorações com seu pai e a coelha ficou

impressionada ao ver que presenciar a morte do pai não havia tirado

do filho o desejo de ser como seu velho. Ela gostava de pensar que a

alma do pai agora fazia parte do corpo do filho.- Uma pena que a colheita está ficando difícil - disse a

coelha. - Do contrário, poderíamos continuar a viver sem trabalhar.- Mas é bom viver no luxo e não ter de se preocupar com a

colheita - disse Percival. - Além disso, não gosto de ficar em

casa... é tedioso...- A juventude... - a velha sorriu. - Quem formará seu partido?- Ainda não sei - Percival nem havia se dado conta de que não

tinha um partido. Explorações da prefeitura requerem grupos, "partidos",

formados através de um processo de seleção entre os candidatos.

Porém, às vezes, para trabalhos simples, é recomendado que o

explorador levasse um grupo de amigos fiéis, sem necessidade uma

prova de seleção.- Mas acredito que não precisarei me preocupar com isso agora -

continuou Percival.- Entendo... Melhor você dormir... amanhã será um novo dia... -

disse a mãe. Naquela noite, contudo, havia um outro filho indo para casa, mas

não para encontrar sua mãe. Um pequeno macaco entrou em sua casa,

também de madeira, construída no alto de uma árvore. Ele saudou

seu pai e perguntou:- Nada ainda?- Nenhuma notícia, filho - disse o pai, um gorila preto enorme,

sentado à mesa enquanto consertava um relógio. Pequeno Mimo era um macaco que ainda nem chegara à puberdade.

Ele vivia com seu pai, um relojoeiro, à espera de notícias da

prefeitura, a qual havia prendido sua mãe injustamente. A casa tinha

dois pisos, um destinado à oficina do pai e outro dedicado aos três

quartos. O pai havia construído a casa sozinho no curso de um mês.

As paredes da oficina eram cheias de ferramentas e relógios

clássicos, visto que Fenária não havia descoberto a tecnologia

digital ou o silício. Mimo suspirou e subiu as escadas para seu quarto. Mas seu pai o

chamou:- Mas outra coisa chegou. Mimo foi até seu pai e pegou o jornal da sua enorme mão. Mimo

não tinha muitos amigos e maior parte de seu tempo livre era

despendido lendo o jornal. Ele então subiu as escadas e folheou o

jornal por uma longa hora, lendo cada palavra, sob a luz de uma vela.

A vela ficava no centro de uma tigela com água, para que as fagulhas

que eventualmente pulassem da flâmula fossem extinguidas. Seu quarto

era pequeno o bastante para acomodar somente uma cama e uma cômoda

que também servia como mesa. Uma janela lhe permitia olhar o céu

por entre as folhas da enorme árvore que sustentava a casa. Ele

chegou à seção de classificados e percebeu uma oferta de emprego

bastante chamativa. Era a mesma oferta que estava na praça visitada

por Percival. Como era um trabalho da prefeitura, talvez Mimo

conseguisse, com seu bom desempenho, libertar a sua mãe. Afinal, ele

talvez poderia pedir uma recompensa diferente; seu pai, mesmo

envelhecendo, provia a família da comida que eles precisavam, então

comida e água não eram exatamente escassos no momento. "Será que meu pai iria nisso?", ele perguntou-se. Mimo

levantou-se e foi até seu pai.- O que foi, Mimo? - perguntou o pai. - Sabes que não posso te

levar pra fazer xixi à noite.- Eu sei, pai, não tem de me lembrar... - falou Mimo,

envergonhado. - É que eu vi uma oferta de emprego da prefeitura.

Talvez, se você fizesse um bom trabalho, mamãe pudesse ser

libertada. O pai voltou-se para Mimo e pediu-lhe o jornal. Mimo o entregou,

já na página dos classificados. Seu pai leu atentamente.- Eu não sei se posso. É um trabalho muito arriscado - falou o

pai. - Não é para qualquer um. É necessário ter coragem,

compromisso e um corpo jovem. Mesmo que eu tenha os dois primeiros,

não sei disponho de um corpo jovem o bastante. Mimo pensou um pouco sobre as palavras de seu pai.- Posso eu ir? - perguntou. Os olhos do pai arregalaram-se e ele olhou Mimo com ar de

espanto.- Não! Nunca! Olhe pra você! És uma criança! Jamais eu

deixaria que você participasse de uma ofensiva da prefeitura! -

falou o pai, enfatizando cada palavra com o tom forte de sua voz.- Mas pai... - retrucou Mimo. - é nossa única chance... É óbvio

que a prefeitura não vai soltar a mamãe sem que nós façamos algo.

Os encarceramentos são definitivos até que o culpado seja provado

inocente... ou até que uma fiança seja paga! Você me disse isso! O pai, diante da preocupação do filho, baixou o tom da voz ao

dizer:- Eu sei disso, filho... mas é melhor esperarmos por outra

oportunidade...- Você... às vezes nem parece que ama a mamãe - comentou

Mimo, baixando a voz também. Silêncio entre os dois. O pai havia ficado sem jeito. Talvez,

seu principal problema não fosse a falta da juventude, mas de

coragem. No fundo, o pai tinha medo do subsolo da ilha. Mimo subiu as

escadas e entrou em seu quarto. Ele ficou pensando por algum tempo no

que fazer. Ele não queria deixar sua mãe sofrer na prisão. Ele

pensou por um bom tempo, olhando para o teto de seu quarto. Ele então

chegou a uma conclusão. Ele iria, por sua própria conta, na

ofensiva. Dois dias depois, durante a madrugada, Mimo acordou. Ele havia

bebido muita água na noite anterior para que sua bexiga o acordasse

antes da manhã. Ele acendeu a vela e escreveu uma carta para seu

pai. Depois disso, ele apanhou a mochila que havia preparado na noite anterior e saiu

pela janela. Enquanto isso, Percival foi acordado por sua mãe.- Está na hora de ir, campeão - ela disse. Percival sentou-se. Diferente de Mimo, Percival não tinha uma

cama. Ele e sua mãe dormiam em esteiras sobre o chão. Percival

pegou suas coisas e partiu, após beijar sua mãe. Após uma longa caminhada até a cidade, Percival e Mimo

encontraram-se na praça principal, junto com todos os outros animais

que pretendiam participar da ofensiva. Eles faziam seus preparativos

nas tendas de escambo, mas Percival e Mimo, como não tinham o que

trocar, seguiram logo para a montanha. Foi mais uma hora de caminhada

pela floresta densa e escura da madrugada até o pé da montanha,

onde ainda mais animais estavam reunidos, aguardando instruções. O encarregado de aplicar a prova não havia chegado ainda. Foi um

teste esperar naquele frio, mas muitos haviam vindo preparados. Cada

vez mais animais chegavam da cidade à montanha para prestar o teste.

Eles conversavam entre si e o som de suas vozes enchia o lugar. Havia ali a entrada para a Grande Masmorra. O interior era

revestido de gelo e da entrada partia um intimidador ar gelado. Era

um corredor construído no pé da montanha e que parecia estar lá

desde os tempos ancestrais, isto é, antes da invenção da linguagem

em Fenária. Após uma longa espera, os animais foram agraciados com a

presença de um macaco pequeno, vestindo roupas brancas, usando

óculos, segurando várias folhas de papel. Ele chamou a atenção de

todos:- Senhores, ouçam-me! A hora do teste finalmente chegou! Os animais cercaram o macaco. A primeira etapa foi um sorteio: a

quantidade de provas era limitada, portanto alguns não puderam fazer

por puro azar. Mimo e Percival receberam suas provas. Metade dos

candidatos foi para casa quando não havia mais provas a ser

distribuídas. Não havia caneta ou lápis. Os candidatos tinham que ler as

provas, pensar nas respostas, dirigir-se ao orientador e proferir as

respostas oralmente.