Soldados

Story by Hreter on SoFurry

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SOLDADOS

Aquele quase macabro assovio cuja intensidade ia aumentando e aumentando, parecia haver calado qualquer outro som naquele caos. Parecia ter calado os distantes estrondos e explosões, o explodir da pólvora de fuzis e seus projéteis que cortavam o ar com pequenos assovios muito similares a este, dos gritos de ânimo, desespero, agonia, dor, súplica e socorro que trocavam os soldados do décimo terceiro batalhão das forças armadas alemãs. Pareceu até mesmo calar o implacável frio do inverno russo que, como a própria morte, os rodeava e os debilitava.

E então o tempo parou. Por meio segundo, um jovem Husky pôde assistir, com toda a riqueza de detalhes, como um gigantesco projétil de artilharia se dirigia ao seu batalhão como um cometa sem cauda, ofuscando-o como se de um segundo sol se tratasse. Mal teve tempo de sentir-se aterrorizado. Girou-se e, dando um salto descomunal abraçando ao seu fuzil com todas as forças, conseguiu sair da trincheira que havia sido escavada pelo exército alemão às portas da cidade russa que agora atacavam. Uma trincheira que, ao receber o impacto fulminante do disparo de artilharia, transformou-se num completo inferno. Um inferno em meio um inverno de temperaturas muito abaixo do zero.

O coração do husky parecia ter parado, seu corpo mal podia responder-lhe, assim como sua mente havia ficado em branco. Apenas sentia a necessidade vital de correr com todas suas forças e de abraçar o seu fuzil contra o peito, enquanto os projéteis que seguiam o primeiro explodiam a suas costas, cada vez mais e mais perto. Ele sabia muito bem que outros também haviam conseguido sair a tempo, e sabia que corriam por suas vidas como ele. Também sabia que, pouco a pouco, seriam dizimados pelos franco-atiradores posicionados nas grandes construções daquela grande cidade, ou debilitados por alguma bala das armas de repetição bem fixas na trincheira que se localizava a quinhentos metros da sua.

Sabia disso, mas não podia preocupar-se. Nem com seus companheiros feridos, nem com cada bala que passava praticamente raspando por sua orelha e uniforme. Tinha que preocupar-se com o terrível zumbido que se hospedara em seus ouvidos, a tontura que lhe assediava, provocando-lhe uma grande vontade de vomitar e, talvez, desfalecer-se ali mesmo, desistir e morrer de uma vez.

Dirigia-se, com a cabeça instintivamente agachada, ao pequeno bairro periférico do qual haviam expulsado os russos na semana anterior. Lá, haviam improvisado uma base onde poderia proteger-se e reunir-se com seu exército. Estava cada vez mais perto, cada vez mais perto...

-CUIDADO! - Ouviu o husky entremeio o zumbido que começava a amenizar-se e a melodia do caos que voltava a ganhar sua intensidade e seu protagonismo de antes. O ouviu quase ao mesmo tempo em que sentia ser golpeado por algo e ser jogado alguns metros a sua direita, atrás de uma das primeiras construções de estrutura danificada.

Percebeu que se tratava de alguém ao sentir um par de braços apertando-o contra um uniforme idêntico ao seu no momento em que chocavam contra o solo acidentado. O husky deixa escapar um grito ao sentir uma imensa pressão e um infernal calor quando um novo projétil de artilharia choca contra a casa vizinha, explodindo-a em mil pedaços.

Apenas se atreveu a abrir os olhos quando sentiu o abraço perder um pouco de sua força e um grunhido de dor ser liberado de seu salvador. Olhou para cima e viu o rosto contorcido de dor de um raposo de seu mesmo batalhão. Não demorou em ver que um dos pedaços da casa havia pousado sobre uma de suas pernas.

Apressou-se em levantar-se e tirar aquele pedregulho de cima da perna do companheiro. Sua calça havia-se rasgado e a pelagem alaranjada que cobria seu gêmeo direito estava encharcada de sangue. Sem pensar duas vezes, pegou o braçoo do raposo, colocou-o sobre seu ombro e o ajudou a ficar em pé.

-Vo... Você está louco? - Gritou ele, ignorando sua garganta extremamente seca. - Corra enquanto pode! Não vai demorar a que outra bateria venha! Você ainda pode chegar até o porão de nossa base...! - Mas o husky simplesmente o ignorou. O ignorou e, tirando novas forças de sabe-se lá onde, arrastou a ambos até um prédio que tinham a sua frente, ao mesmo tempo em que os últimos sobreviventes da trincheira corriam como gazelas de um incêndio até a base improvisada.

Entraram no que aparentava haver sido em seus dias de paz a sede de alguma pequena empresa. Atravessaram a recepção deserta, invadindo-a com suas respirações ofegantes, ignorando o macabro silêncio que se formara. Ao outro extremo encontraram uma porta que levava até um andar subterrâneo, a qual fecharam a suas costas após entrar. Um par de segundos depois, o chão estremeceu sob o impacto de uma rajada de imensos projéteis. Todos vindos do mais alto dos céus, todos pertencentes à fulminante ira divina.

TUMP! TUMP! TUMP! TUMP...

Um peculiar som metálico ecoava pelas quatro paredes do porão agora soterrado pelos escombros do que um dia vieram a ser seus andares superiores, completamente dizimados por dois certeiros tiros de artilharia. O jovem husky, com uma expressão onde raiva e desespero se mesclavam, deixava escapar pequenos e quase inaudíveis ganidos enquanto golpeava, com cada vez menos força, a porta de metal que daria acesso ao andar térreo.

Por sorte, o porão aparentava ter sido construído com o intuito de servir de refugio a alguma catástrofe e havia resistido firmemente enquanto o resto da estrutura desmoronava sobre ele, fazendo apenas com que uma grande quantidade de poeira se desprendesse do teto e cobrisse a seus ocupantes. Mas infelizmente, os escombros haviam bloqueado a porta por fora, tornando os esforços do husky inúteis.

Com um ganido particularmente alto, dá um último soco na porta de metal e deixa seu punho cair, uma lágrima escorrendo por seu rosto. Apressou-se em secá-la e virar-se a seu "companheiro de cela". Baixo as escadarias de metal, recostado o mais confortavelmente possível contra uma parede, o raposo o mirava com uma expressão indecifrável. Sem agüentar manter o contato, desviou o olhar e desceu as escadas, disfarçando o melhor que pôde as outras lágrimas que sentia querer escapar.

-Está emperrada. - Anunciou ele, com voz fraca. - Os escombros devem tê-la amassado de alguma forma, ou a estão simplesmente bloqueando. - Extremamente cansado, deixou-se cair ao lado do raposo, próximo ao pesado equipamento que ambos haviam carregado. - Como vai a perna? - Perguntou, dirigindo um olhar desconfortável à sua perna direita, a qual estava vendada com um pedaço de sua própria roupa. O branco da tela havia adquirido um gritante tom rubro graças ao sangue, mas a hemorragia parecia ter cessado.

-Sobreviverei. - Disse, deixando escapar uma risadinha irônica. - Você não precisava ter feito aquilo. Se tivesse corrido até a base, não estaria nesta situação.

-O mesmo vale pra você, não? - Contestou, em tom desafiante, desconfortável pelo assunto. - Que idéia foi aquela de me salvar daquele jeito? Nunca tinha visto algo tão imprudente... - Mas calou-se. Envergonhado, ficou olhando seu coturno, esperando alguma resposta, a qual não veio. - Mas... Obrigado. Muito obrigado por ter-me salvo, apesar de tudo. É bem raro encontrar alguém assim por aqui.

-Não me estranha. Não importa qual a vontade do Führer ou dos generais, ou quão intensa pode ser a batalha. Todos apenas queremos sobreviver, mesmo que isso signifique sobrevivermos sozinhos. - O raposo, com uma careta de dor, acomodou-se numa outra posição e prosseguiu. - Todos, ou quase todos, temos algo pelo que queremos sobreviver, pelo qual lutamos. Pelo que você luta? - A pergunta pegou o husky de surpresa, mas respondeu prontamente.

-Minha irmã. Meu pai morreu durante a grande depressão e minha mãe adoeceu e nos deixou quando eu apenas tinha quinze anos e ela sete. Desde então a venho cuidando como posso. Quando fui convocado, o mundo desabou sobre mim. O que será dela em minha ausência, ou até mesmo se eu não voltasse eram perguntas freqüentes em minha cabeça. É por isso que preciso sobreviver e voltar para ela. - Ele recostou a cabeça contra a parede de concreto e sorriu para o outro canto do apertado recinto, imerso nas sombras. Um triste sorriso esboçado naquele rosto cheio de poeira. - E... Eu não queria lutar... Eu não quero lutar. Isto é uma loucura...

-Eu... - Começou o raposo, com voz potente, interrompendo o inicio de um ataque histérico do husky. - Sempre estive só no mundo. Não conheci meu pai, e pelo que soube minha mãe me abandonou por não ter como sustentar a uma criatura. Cresci no meio da selvageria das ruas de Berlim dos anos trinta. Aprendi que não podia confiar em ninguém, já que ninguém confiaria em você. Não existia justiça nem moral, apenas existia a fome pela sobrevivência. Pode-se dizer que já conhecia o calor da guerra bem antes de ser convocado. Mas três anos atrás eu conheci a uma pessoa. Uma pessoa maravilhosa com a qual não me sentia excluído ou sozinho. A amei como nunca antes havia amado alguém. Nunca tive coragem o suficiente para confessar-lhe meu amor, com medo de perder sua deliciosa companhia. - Ele foi continuar, mas pelo visto sua garganta estava demasiado seca. Pigarreou e tentou continuar. - Ano passado, em um desses bárbaros movimentos anti-judaicos, esta pessoa foi morta de uma maneira brutal.

"O engraçado é que não senti ódio, raiva, rancor por aqueles monstros. Tudo o que senti foi um vazio que me persegue até hoje. Um vazio que me torna impossível ser atingido por insultos, por pressões, ou pelo terror de haver matado um ser." Suspirou profundamente "Que grande ironia eu ter sido convocado. Eu, um ser invisível à sociedade até que ela realmente precisa de um peão mais que sacrificar. Pode não ser tão nobre quanto o teu, talvez você nem ao menos compreenda, mas quero sobreviver apenas para poder encarar, de frente, o mundo que me humilhou por dentro, com a esperança de que este vazio que em mim reside desapareça de uma vez por todas. Não por orgulho, nem por honra. Não acredito que haja algo assim numa guerra. Apenas por essa esperança.

Silêncio. Era verdade, o husky não conseguia entender algo assim. Mas sim pôde entender a emoção que emitiam as palavras do raposo. Entendê-las e identificar-se com sua sede de sobrevivência, com sua perseverança em manter-se vivo, apenas por seu objetivo egoísta, insignificante perto do que estava em jogo naquele imenso tabuleiro dos grandes generais. Era normal, afinal. Eram raros aqueles que eram amantes do sangue e vagavam com seus exércitos exclusivamente para satisfazer seu vicio, como a encarnação de um deus da morte. Não, todos compartiam tal perseverança e facilmente tornavam-se companheiros uns dos outros.

Mas aquilo era diferente.

Sentindo dezenas de borboletas em seu estômago, o husky apertou os dentes, levantou-se de um salto, assustando ao raposo, e subiu a breve escadaria de metal de dois em dois degraus. Arfou para a porta e começou a investir contra ela, chocando seu ombro contra ela. Novamente aquele fantasmagórico som ecoava pelos quatro cantos escuros do ambiente, apenas interrompido por umas quantas e minúsculas aberturas no vão do teto que antes da explosão teriam sido pequenas janelas, agora soterradas quase completamente pelos escombros. Um feixe de luz alaranjado fez com que as lágrimas que escorriam pelo rosto do husky brilhassem.

-Pare com isso. - Disse o raposo, sua voz algo alterada e com sinais de preocupação - Vai acabar deslocando o ombro por nada. Não vai conseguir abrir.

-Então o que você quer que façamos?! - Gritou ele, deixando de golpear a porta, mas mantendo as costas viradas para seu companheiro. - Duvido muito que sintam nossa falta até que possam enterrar os corpos dos caídos em batalha! E quem sabe quando esta batalha acabará e se realmente seremos capazes de chegar ate Stalingrad! - A firmeza de sua voz foi cedendo a uma serie de soluços - Não vamos durar nada sem comida ou água, isso se o frio não nos matar primeiro! E tua perna precisa ser tratada o quanto antes! - Ainda sem querer mostrar seu rosto choroso, aponta para o raposo apoiando sua testa contra a gélida porta. Soluçou um par de vezes até poder continuar. - Não podemos morrer. Não aqui, não agora, maldição! Não agora...

-Acalme-se! - Rugiu o raposo, mas teve que controlar o tom de voz ao sentir uma pontada na perna - O nosso pior inimigo agora é o pânico, então, por favor, relaxe! Pensaremos em qualquer coisa...

-No quê?! Não há nada neste porão infernal! Apenas a face da morte nos sorrindo em cada canto. A tua história... Você não pode ficar assim! Não seria justo! Morrer sem poder livrar-se desse vazio é... Cruel demais...

O raposo, com uma bela careta de dor, incorporou-se se apoiando nas paredes, tentando não deixar seu peso cair sobre a perna ferida e foi subindo as escadas. "Idiota..." murmurou ele, resistindo-se a cada gemido de dor que insistia em sair de sua boca. Terminou de subir as escadas e envolveu o husky num suave abraço, posicionando o focinho sob seu ouvido.

-Cuide de tua vida, se preocupe em sobreviver por tua irmã. - Sussurrou ele, arfando ligeiramente pelo esforço. - Eu não pretendo morrer aqui e isso é o suficiente.

-Mas... - Engasgou-se ele em suas palavras, algo pego de surpresa pelo abraço.

-Shhh... - O raposo aumentou um pouco a força de seu abraço, fazendo o husky esquecer-se pouco a pouco do penetrante frio que lá se respirava. - Eu disse para relaxar. Nosso batalhão não sairá do refugio até amanhã no mínimo. Tudo o que podemos fazer é poupar-nos e sobreviver até lá. - Após sussurrar tais palavras, alarga sua língua para recolher a lágrima que escorria por aquele belo rosto coberto pela suja, porém ainda assim resplandecente pelagem azul-marfim.

Ele não soube explicar como, mas aquela lambida penetrara além de sua pelagem, além de sua carne, transportando a cada centímetro de seu corpo uma deliciosa e cálida sensação de proteção, acentuada por aquele abraço tão apertado, por aquela suave respiração a roçar em seus pelos... Aquele calor que os envolvia de uma maneira intensa e confortável, como se tratasse de uma barreira mágica contra todas aquelas frias desgraças que os rodeavam. Aquele delicioso calor que o tomava...

Como se acordando de um transe, se remexe no abraço, algo desconfortável, extremamente corado e odiando-se por ser invadido por tais sensações. Em quê estaria pensando? Ele apenas o abraçara para aplacar o frio mortal e para consolá-lo. Apenas por isso o havia envolvido com firmeza com aqueles braços que mais cedo lhe haviam salvado a vida, pressionando-o contra o corpo protegido pelo uniforme de seu batalhão. Apenas para consolá-lo e hipnotizá-lo, submetê-lo a seu encanto, com aquelas palavras tão firmes quanto seu abraço, apesar do grave ferimento em sua perna.

Como se notando o inquieto que seu companheiro estava, ou como se pudesse ler em sua confusa mente o que se passava por seu coração acelerado, o raposo deixou uma de suas patas abandonar o abraço para subi-la até o maxilar do husky, alisando-o suavemente antes de pressioná-lo com a mesma suavidade para girar seu rosto e fazer com que seus olhos se encontrassem. Não disse nada, porém. Não precisava dizer o que seus olhos, brilhantes pérolas cor do mais puro mel, expressavam com seu resplendor ao ritmo da minguante luz que ia infiltrando-se no cada vez mais escuro porão do que antes fora um dos mais importantes prédios da região.

Sem saber como nem por que, num piscar de olhos o husky encontrou-se com seus lábios entrando em contato com os de seu salvador. Mais intenso que sua exasperação era apenas o calor que invadia seu rosto, corando excessivamente sob a pelagem felpuda que era acariciada por uma pata rubra e branca, suave como uma nuvem. Mas pouco a pouco sua exasperação foi diminuindo, diferentemente do calor que se removia dentro de si, dando lugar a uma serenidade que há muitos anos não experimentava.

Uma sensação deliciosa, sim senhor.

Tão deliciosa que não ofereceu resistência alguma quando sua língua tentou abrir caminho entre seus lábios, indo de encontro com a sua. Tão deliciosa que deixou parte de seu peso apoiar-se contra o firme corpo do raposo. Tão deliciosa que... Onde estavam mesmo? Não se lembrava. Não se lembrava de como havia chego ali, apenas sabia que não queria abandonar aquele lugar tão cedo.

O raposo, extremamente aliviado e feliz pela aceitação do husky, incrementou o calor de seu beijo, começando um magnífico bailar entre ambas as línguas enquanto ia acariciando o pescoço e a lateral daquele rostinho. Ignorando a dor em sua perna, com a outra de suas patas foi invadindo lentamente o interior daquele pesado uniforme que cobria seu tão desejado e fatigado corpo. Soltou um leve suspiro quando sua pata entra em contato com a pelagem de seu abdômen, alisando-o enquanto o pressionava mais e mais contra ele.

Os sentidos do cão aparentavam terem-se limitado a cada centímetro de seu corpo que estava em contato com seu companheiro, a sua fragrância, ao seu calor e ao bater de seu coração, aumentando o ritmo à mesma velocidade que o seu. Os olhos semicerrados enquanto começava a devolver aquele caloroso beijo, aceitava o fato de sua mente estar sendo invadida por uma arroxeada névoa que não lhe permitia racionar. E isso estava bem.

A excitação começando a florescer em forma de um comichão em seu ventre, o raposo, ignorando a decrescente temperatura do crepúsculo russo, vai levantando sua pata pelo corpo ainda tenso do husky, acariciando-o e massageando-o enquanto ia subindo seu uniforme até a altura do tórax. Sente como se estremece, sem impedi-lo em sua empreita e sorri por dentro, enquanto passava sua pata sobre um de seus mamilos.

Ao sentir a pata em contato com seu sensível mamilo, estremece-se uma segunda vez e suspira pelo nariz, sem quebrar o beijo. O cada vez mais intenso beijo que os parecia unir numa única essência, uma única mente, terrível e maravilhosamente nubladas pela crescente excitação que os invadia e deles se apoderava. Por fim o husky quebra o beijo e, com o rosto ardendo, dedica um olhar submisso ao raposo, erguendo os braços para que ele, de um puxão, lhe livrasse de seu uniforme, revelando aquele quente corpo coberto por uma sedosa pelagem azul e branca.

O raposo se deteve um momento para passar seus olhos rapidamente por aquelas maravilhosas costas. Sorriu e, mordendo discretamente seu lábio inferior, livrou-se rapidamente de sua própria camiseta para voltar a abraçá-lo, seus corpos entrando completamente em contato. Sua pelagem roçando e sendo pressionada contra a sua, um coração chamando ao outro, seus pulmões enchendo-se e esvaziando-se sem alterar o intenso ritmo daquele beijo. Aquele beijo, fonte do único ruído que tirava do silêncio a soberania sobre o cinza e gélido porão que, pouco a pouco, ia desvanecendo, dando lugar ao mais belo paraíso.

Posicionando-se um de frente para o outro, o husky deixa-se ser prensado contra a fria porta de metal que minutos antes se dedicava a golpear. O beijo interrompido, o raposo ia descendo com seus lábios acariciando o pescoço de um cãozinho que não deixava de sorrir, animado pelas cócegas que os beijos e lambidinhas produziam, descendo de seu pescoço até seu ombro e dali, passando por seu tórax, o mesmo mamilo que antes era acariciado, sua barriguinha e seu ventre...

Resistindo-se a fazer uma careta provocada pela dor aguda que queimava sua perna, o vulpino, encaixando seu focinho no alvo abdômen, subiu suas patas pelas coxas do husky, até chegar a seu bumbum. Dedica-lhe uma ligeira apertada antes de pousar suas patas por fim em sua cintura, sobre o cinturão que o envolvia. Como se sedento por um anestésico que lhe livrasse de tal dor, desfez-se habilmente do cinto, jogando-o a um lado. Sem nem ao menos ouvir o eco metálico de seu choque contra a plataforma, desceu mais alguns centímetros seu focinho até pousá-lo sobre o vulto que parecia algo oprimido sob aquela camada de roupa.

A estupefação do husky voltara ao ver como o raposo lhe dedicava um olhar meio perverso, meio suplicante. Sem saber se podia ficar ainda mais corado, sorriu e acariciou seus cabelos lisos, como assentimento. Assistiu como, lentamente, ele ia beijando seu ventre enquanto abaixava suas calças e cueca, toda a estranha excitação que o envolvia sendo expressa por seu membro, quase completamente ereto. Seu rosto contorceu-se ao sentir como a úmida lingüinha do raposo percorria toda sua extensão.

Num cadencioso e suave movimento, aqueles lábios iam massageando cada centímetro do pulsante membro, o qual aparentava agradecer cada vez que sua língua passava por um ponto chave. Os olhos bem fechados, concentrando-se ao máximo em seu bem remunerado trabalho, a cauda do raposo ia esvoaçando-se pelo ar à medida que aquela excitação lhe provocava um incômodo aperto em suas próprias calças. Um aperto que não demorou a resultar um incômodo maior que sua perna ferida.

Empunhou a base do excitado membro, sobre o nó que começava a inchar-se, e livrou-se também de seu cinto, aliviando seu instrumento da cruel prisão. Massageando e dedicando solitárias, porém potentes chupadas na base e na ponta do membro do husky que se contorcia de prazer e gemidos, o raposo começa a masturbar-se, sua própria pata melando-se com sua excitação.

Um som agudo passou despercebido por ambos quando o husky arranhou com força a porta. Com a outra pata, ia despenteando aleatoriamente a loura cabeleira que fitava com os olhos semi-abertos. Arfava e deixava escapar um que outro gemido de sua boca entreaberta. A cada roce de sua língua com seu membro, uma intensa onde de prazer percorria-lhe da cabeça aos pés, curando suas feridas, seus traumas, suas preocupações... Aaah, aquele toque dos Deuses!

Ao ver como o orgasmo se aproximava para o husky, o raposo limita-se a passar rapidamente sua pata por todo o pulsante membro, escancarando sua boca a espera de sua recompensa. Entreabre um de seus olhos para poder assistir como o maravilhoso rosto acima dele ia passando de uma careta à outra de prazer.

Um fogo intenso lhe queimava o ventre. Queria manter aquela sensação deliciosa, apenas um pouco mais. Contorceu-se, cada músculo de seu corpo permaneceu-se rígido, mas não foi suficiente. Com um urro misturado a um longo uivo, deixou que sua semente jorrasse de seu membro. Revira os olhos ao sentir-se por um milésimo de segundo no verdadeiro céu. Involuntariamente, apertara com certa força os cabelos de seu companheiro enquanto arranhava novamente a porta, inserindo nela a marca de seu prazer.

Arfando, com a língua de fora, ele olha para baixo e vê a um raposo lambendo-se os lábios, recolhendo cada gota que lhe escapara. Sorriu-lhe, soltando seus cabelos e coçando atrás de sua orelha. Fora incrível. Realmente incrível. Mas pela expressão maliciosa que cobrira o rosto de seu companheiro, ainda não havia acabado.

Levantando-se com certa dificuldade, mas sem perder o foco, o raposo volta a dedicar naqueles tão queridos lábios, um intenso beijo, compartilhando parte de seu prêmio com seu real dono. Ambos os membros eretos roçando-se, o vulpino deixa suas patas escorregarem das laterais do corpo de seu parceiro canino até pararem em suas nádegas, apertando-as e acariciando-as. Encerra o beijo por um momento para fitar-lhe nos olhos enquanto seu indicador infiltrava-se entre as nádegas para massagear sua entradinha.

Um frio arrepio percorreu a espinha do husky quando sentiu aquele dedo massageando-lhe. Hesitou por um momento, mas então finalmente virou-se de costas para o raposo, erguendo sua cauda e curvando-se para apoiar-se contra a porta. Com sua pata direita, recolhe algo que sobrara de seu esperma escorrendo por seu membro e, sensualmente, lubrifica seu próprio rabinho, como se o convidasse a entrar. Não sabia por que, mas aquilo parecia ser o melhor a se fazer naquele caso.

Sem demorar-se, o raposo envolve o corpo do husky com seus fortes braços e cola seu corpo no seu, roçando a ponta de seu membro no lubrificado ânus. Mordiscando a ponta da orelhinha azulada, move os quadris lentamente, penetrando pouco a pouco o apertado rabinho do husky, sentindo como seu membro era esmagado, massageado. Numa mistura de dor e prazer, um novo uivo escapa da boca do husky. Ao ver como ia ficando tenso, o raposo foi acariciando seu corpo com as pontas dos dedos e passando a ponta do focinho por seu pescoço, tranqüilizando. "relaxe..." sussurrou ele "apenas aproveite o momento...".

Mordendo seu lábio inferior tão forte que lhe chegavam a doer, o husky suprime qualquer gemido de dor que poderia liberar enquanto sentia como era invadido e, posteriormente, estocado pelo monstruoso... grande... suave... delicioso membro de seu amado raposo. A dor foi desaparecendo à medida que ia relaxando-se e a lubrificação ia sendo incrementada pela excitação do raposo, dando lugar a um intenso prazer ao qual não pôde evitar glorificar com gemidos cada vez mais e mais altos.

Envolve sua cauda avermelhada a uma das pernas do husky e incrementa a velocidade de suas estocadas. Sentia-se mais a vontade a cada movimento, chocando seu nó contra a já dilatada entradinha de seu companheiro. Acompanhando o ritmo dos gemidos que ecoavam pelo cada vez mais escuro porão, já completamente imerso no mágico ambiente noturno, começa a masturbar o ainda ereto e bem melado membro , crente de que não agüentaria muito mais tempo.

Cada vez que inspirava o cálido ar que os envolvia, uma nova onda de prazer ainda mais intensa que a anterior explode em seu interior. Salivando incrivelmente, abre um pouco mais as pernas para permitir ao raposinho entrar-lhe com tudo. Virando o máximo que podia com sua cabeça, uniu ambos os focinhos e, depois de dedicar-lhe um apaixonado olhar, imergiu a ambos em mais um enamorado beijo, ainda mais molhado que os anteriores. Não podia agüentar muito mais... Estava...

Com uma estocada particularmente forte e confiada, o raposo enterra seu já bem inchado nó no interior de seu amado, incrementando a velocidade ao masturbar-lhe e mordiscando sua lingüinha. Sentiu como, depois de um par de segundos, ele arregalava os olhos numa expressão de extremo prazer e deixava, por segunda vez, o gozo explodir de seu interior, desta vez sem cortar o beijo. Para ele ainda faltava um pouco, apenas um pouquinho...

Já não podia sentir o delicioso membro em seu interior, tampouco o firme contato de seu corpo com aquela pelagem fofa, ou a excitante língua que bailava com a sua no mais intenso dos beijos. Havia-se submergido numa espécie de transe. Embora mantendo seus olhos semicerrados, não via nada além de uma nuvem do mais intenso marfim, desvanecendo-se num fundo avermelhado... Um céu rubro.

O mundo deixara de existir, desaparecera de sua própria noção da realidade. Tudo o que existia era o turbilhão de prazer que o envolvia, acariciava cada centímetro de seu fatigado corpo ao mesmo tempo em que deixava toda sua excitação jorrar para dentro de seu querido husky em forma de sua semente. O nó extremamente inchado, prende a respiração e aperta intensamente o abraço até que a última gota tivesse sido liberada.

E silêncio.

Um silêncio apenas cortado pelo quebrar de seu beijo e, posteriormente, sua dificultosa respiração. E então, deitaram-se no chão, invadidos pelo cansaço e uma sensação de irrealidade deliciosa, muito bem vinda. Cobrindo o corpo nu do husky com as roupas de ambos, o raposo coloca-se atrás dele, apertando-o contra ele, ainda em seu interior. Nenhum dos dois disse nada por um bom tempo. Apenas tiveram a coragem de trocar alguns carinhos, um que outro beijo à medida que a noite ia intensificando-se, o mágico calor ia desaparecendo e o implacável frio noturno ia penetrando profundamente em seus pêlos, pele e ossos. Assim permaneceram, abraçados, compartindo um o minguante calor do outro, ate que...

-Quer, de verdade saber o porquê de eu ter te salvado? - Murmurou o raposo ao pe de seu ouvido. O husky hesitou um momento, sentido-se cansado, extremamente cansado. Mas acaba assentindo com um movimento de cabeça. - Você... Você é idêntico àquela pessoa a qual amava. Deixar-te morrer seria o mesmo que deixá-lo morrer novamente. - Então ele incrementa ainda mais seu abraço, temeroso pelo silencio do husky. - Mas ... - Engoliu em seco, mascando bem as palavras que ia utilizar. - Assim como ele, você mostrou-se comovido por minha situação, por minha historia. Assim como ele, te preocupaste por mim. E, diferentemente dele... - dedica uma carinhosa lambida na lateral de seu rosto, sem sentir o calor que antes o envolvia - Me amaste incondicionalmente. Por isso, te agradeço. Te agradeço com todas minhas forças. E também peço perdão, por não ter sido capaz de te salvar, de fato.

E, encostando o focinho na nuca de seu amado, fechou os olhos. Não esperou por uma resposta. Sabia que não haveria nenhuma. Os olhos do husky já haviam-se cerrado, banhado em lagrimas que nunca cairiam. Apenas permaneceriam lá, esperando o sol da alvorada iluminar parcialmente uma vez mais aquele solitário e, para sempre, esquecido porão do que antes fora uma das mais importantes construções daquele devastado bairro-satélite da cidade que os alemães nunca conseguiriam conquistar.

FIM